segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Negritude e Pós-africanidade

As fotografias que fazem parte da exposição “Negritude e Pós-africanidade” retratam a Big Nitgh Little Haiti, em Miami, e são resultado do material de pesquisa produzido durante um estágio de pós-doutorado no Center for Latin American Studies da University of Miami.A pesquisa desenvolvida se insere numa reatualização do debate sobre identidades étnico-raciais, trazendo à tona uma crítica à associação (amplamente legitimada nas discussões sobre relações raciais) entre as noções de negritude e africanidade. Valendo-se de exemplos em pesquisas realizadas na cidade de Miami (da “diáspora de haitianos”, “migrantes dominicanos” e os “afro-americanos”) bem como de alguns do contexto brasileiro, o eixo argumentativo materializa a necessidade por considerar que as identificações étnico-raciais e a identidade negra não podem mais ser lidas a partir de discursos políticos e pedagógicos que restrinjam a negritude ao discurso da africanidade. Considera-se que esta tese, alimentada de discussões teóricas e exemplos empíricos, insere-se numa discussão bem atual acerca das relações raciais no país, procurando contribuir para novos desdobramentos analíticos sobre o tema. A tarefa de “desconstrução” da associação entre negritude e africanidade, supondo uma nova noção para esse fenômeno em processo, a “pós-africanidade”, resulta numa posição que também pode ser lida como “esquema analítico” instrumentalizável para o estudo de outros fenômenos identitários.Não existem dúvidas de que esta pesquisa poderá inquietar a atores de organizações sociais dedicados a temas que ligam racismo, identidade negra e direitos sociais, bem como a uma comunidade acadêmica que parece ter questionado pouco os nexos entre a negritude e os discursos sobre a africanidade. Pergunta-se: de que maneira o espaço da comunidade, do bairro, os “círculos sociais” e “grupos de pertença” se manifestam entre a população negra na atualidade? É o significante “negro” um elemento socialmente aglutinador do espaço da negritude? E o discurso da africanidade possui certa receptividade valorativa nos dias de hoje? A pesquisa traz à cena discussões que se entrelaçam: sobre a “racialização da sociedade”, a comunidade, a politização das identidades raciais, os processos contemporâneos de individualização e diferenciação social, a interação social em espaços diversos e as situações de conflito vivenciadas pelos jovens negros.

Na terceira sexta-feira de cada mês, a “comunidade de haitianos” de Miami realiza um encontro cultural no “Little Haiti Cultural Center”, no centro do extenso bairro denominado “Little Haiti”. Música, exposição de arte, gastronomia e dança são as diferentes atividades que simultaneamente, e durante quatro horas, concentram a atenção de um público na sua maioria de migrantes haitianos. Nessa oportunidade, a “cultura nacional” se recria ao ritmo de baladas típicas do país, em sotaques do “creole” como língua cotidiana, em comidas típicas e exposições artísticas que não ocultam seu caráter pedagógico para as novas gerações de crianças e jovens. Nas noites cálidas de Miami, Haiti pareceria não estar esquecido no imaginário de muitos de “pele escura” que transitam pela cidade.

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